“Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla. Ele pensa: "A minha flor está lá, nalgum lugar..."
Quantos de nós já viveram o dilema de ter que deixar a sua flor para poder desbravar o mundo?
Eu tinha uma flor, que era única no mundo para mim, mas um dia tive que deixá-la e esta não foi uma decisão fácil, pois eu era feliz ao lado da minha Rosa, apesar de suas queixas sobre mim, apesar de ter que dar muito cuidado a ela e não ter reconhecimento. Eu costumava achar engraçado as suas queixas, mas no fundo cada uma delas me feria, pois carregava a culpa por ser incapaz de fazer a minha flor feliz.
Quando parti, o fiz por não conseguir mais compartilhar da sua tristeza, por pensar que eu mesma a deixava assim. Enquanto estive ao lado dela, tentava dar o meu melhor, mas não sendo suficiente, eu me feria, diminuindo-me e ampliando o pior de mim.
Quando parti, senti uma leveza que já não sentia enquanto a contemplava. Inicialmente achei estranho, mas com o tempo fui vendo que quando a deixei livrei-me também do fardo das expectativas. E hoje percebo que podemos levar a vida mais levemente quando deixamos de lado um pouco das expectativas que fazem de nós, mas mais que isso, quando deixamos de lado as próprias expectativas de ser perfeitos em tudo o que fazemos e passamos a ser simplesmente quem somos.
Mas na época não entendia essa coisas e era tudo novo. Apesar de assustada, em minha caminhada, encontrei as mais belas paisagens, as mais incríveis aventuras, as mais doces pessoas, mas eu sempre pensei na minha flor, em cada um dos dias, desde que a conheci. Mais do que isso, eu tinha a nítida certeza de que o que eu sentia por ela era exatamente a mesma coisa, desde a primeira vez que a vi, até o momento presente, mesmo que este sentimento fosse indefinido.
A uma certa altura de minha caminhada, percebi que o que eu já não sabia mais se minha Rosa ainda estava lá e mais que isso, se ainda lembrava de mim. Este foi um momento de muita dor. Eu precisava saber da flor e fui em busca de informações. Quando consegui as informações, percebi que precisava ver a flor. Fui vê-la, mas subitamente, já não a considerei tão bela.
Assustada, pensei que eu havia falhado. Eu não cuidava bem da flor, mas sem mim ela ficava ainda pior. Tentei então me reaproximar, de maneira leve, mas sem deixar de conhecer o resto do mundo, para cuidá-la, ouvi-la queixar-se ou simplesmente apoiá-la, mas a flor já não queria a minha presença.
Segui em frente, buscando a luz em outras coisas que iluminam, mas ferida, jamais olhei as outras flores.
Em meu percurso havia muita felicidade, sonhos, amigos e outros sentimentos bons, mesmo assim, meu pensamento sempre esteve voltado à flor.
Um belo dia, conheci outra flor, linda e encantadora, Talvez fosse o momento de regar outras coisas, mas não era a minha Rosa e por isso mesmo, não me convenceu. E mais uma fez segui fechada pensando que nenhuma flor no mundo tomaria o lugar da minha rosa. Pensei que todas as outras embora belas, seriam vazias, e não as permitia me cativarem.
Convencida de que viver sem a Rosa era o melhor caminho, levei a vida sem o encanto das flores, pois eu jamais encontraria a perfeição da minha flor em nenhuma outra.
Em um momento de confusão fui ver a Rosa, porém ela já não estava mais tão linda, e entendi que por vezes enfeitamos as nossas flores com o nosso sentimento e, isso sim, as torna mais belas. Quando o sentimento vai embora, parte da beleza parte com ele e o que resta é a aparência real das coisas. Então se pode notar claramente um leve defeito na formação das pétalas, ou que nem sempre o perfume é tão agradável quanto parecia, ou ainda que sua cor não é, necessariamente, a mais bela de todas.
Quando minha rosa mostrou-se menos bonita para mim, pus-me a pensar e, de tanto pensar, tornei as lembranças confusas e, outra vez, fui vê-la em seu quintal. Percebi que era linda sim, porém não a única. Passei a olhar a minha volta, às outras flores do jardim e vi as tantas espécies lindas que lá haviam. Pétalas suaves, aromas doces, cores radiantes, formatos e combinações perfeitas. Mesmo assim eu não poderia ter nenhuma daquelas flores, pois a Rosa um dia me disse que não sei cuidar das flores.
Com os olhos envoltos em lágrimas e desejando ser merecedora de poder mais que admirar, observei de longe a minha Rosa.
Foi quando compreendi o porquê havia a deixado. Meu sentimento de culpa, por não cuidá-la bem, era tamanho que eu jamais havia notado que se eu não pude tirar todos os pequenos insetos que insistiam em escalar seu pequeno caule, era porque seus espinhos não permitiam que eu tocasse o seu todo.
Este foi o dia em que voltei a olhar para os lados para descobrir qual a combinação certa quero encontrar e procuro, então, manter todos os sentidos bem abertos, para que possa encantar-me a beleza de uma nova espécie, com um novo doce aroma, com a suavidade de uma outra pétala e quando as doces palavras de uma nova flor sussurrarem ao meu ouvido, que eu dê o meu melhor sem ouvir as vozes traiçoeiras das expectativas.